“Esta é a morada de Deus-com-os-homens. Ele vai morar junto deles. Eles serão o seu povo, e o próprio Deus-com-eles será seu Deus. Ele enxugará toda lágrima dos seus olhos. A morte não existirá mais, e não haverá mais luto, nem grito, nem dor, porque as coisas anteriores passaram” (Ap 21,3-4).
Aproxima-se um dos dias mais emblemático de todo calendário civil e religioso: o dia de finados - dia de sentimento de perda e de saudade, dia de recolhimento, de silêncio e de oração, dia de esperança e de fé na ressurreição dos mortos.
Com espírito pastoral, gostaria de condividir com vocês os sentimentos mais profundos, as emoções mais verdadeiras e a fé mais autêntica e sincera que invadem o meu coração de irmão, de amigo e de pastor: Um autor desconhecido escreveu recentemente o seguinte: “tudo no mundo morre. O tempo todo. A cada segundo, folhas caem, flores murcham, você pisa numa formiga, a leoa acerta um pulo letal no cervo, 20 pessoas morrem em uma enchente, criança leva bala perdida em tiroteio, motorista dorme ao volante e caminhão choca-se com carro, matando toda uma família. É cientificamente comprovado. Tudo que está vivo pode morrer. Mas quando alguém que você ama morre, não há ciência, razão. O coração desliga-se do cérebro e grita sua dor na única linguagem que conhece: a cada batida...”
A morte é a nossa companheira de viagem. Ela está presente em toda a fase da nossa existência. A morte é certa; mas não há somente morte; a morte é vida no além. Santa Teresinha já dizia: “não morro, entro na vida”. Jesus Cristo é nossa páscoa, vida e ressurreição. Nossas vidas estão nas mãos de Deus. No céu o veremos face a face e saberemos como Ele é.
No dia de finados é comum irmos ao cemitério para rezar pelos defuntos. A oração por eles é tradição da Igreja católica. Outro dia, numa visita pastoral, no cemitério, encontrei a seguinte frase, meio empoeirada, amarelada pelo tempo, pouco observada, mas que continha uma grande verdade: “homenagem dos que vão morrer aos que já morreram”. Somente os que ainda não morreram podem homenagear os que já morreram. Visitar o cemitério, mesmo sendo um costume antigo, é ainda hoje uma atitude cristã louvável, quando nasce da fé e se alimenta da ressurreição. Não podemos deixar que se percam nem o seu valor e nem a sua beleza. Mas como visitar um cemitério? Como se comportar numa vista como esta? O que fazer? Como rezar? O que levar e o que deixar?
A Igreja quando reza pelos defuntos tem em mente três motivos: - primeiro, a comunhão existente entre todos os membros de Cristo, vivos e mortos: na morte, como na vida, somos todos irmãos; - segundo, consolar, confortar e prestar ajuda espiritual a quem está triste e enlutado pela morte de um ente querido; - terceiro, ajudar espiritualmente a quem morreu, de modo que, se for da vontade de Deus a oração ajude a se purificar e chegar a Deus.
Portanto, diante do desespero e do relativismo, que fazem ver a morte como o final da existência, Jesus oferece a esperança da ressurreição e da vida eterna, a fim de Deus seja tudo em todos (1Cor 15,28). É Ele quem nos faz passar da morte para a vida, da tristeza para a alegria, do absurdo para o sentido da vida, das trevas para a luz, da descrença para a fé, do desalento para a esperança que não engana.
Permitam-me, por gentileza, sugerir-lhes algumas atitudes para acompanhá-los ao cemitério: - momento de oração: reservem um tempo para a oração pessoal; - acendam velas para que seus entes queridos fiquem iluminados pela luz de Cristo; - cubram suas sepulturas com os mantos das flores para a beleza dos olhos e o encanto da alma; - ajudem nas limpezas do ambiente e dos túmulos dos seus entes queridos; - participem das celebrações, eucarística ou da palavra, escutem a Palavra de Deus e comunguem, se puderem; - e creiam na ressurreição da carne e na vida eterna. Cristo ressuscitado, vida e esperança, estará lá e se colocará no nosso meio para enxugar nossas lágrimas, fortalecer nossa fé e aumentar a nossa esperança.
Neste Ano da Fé, eu, pessoalmente, “creio na remissão dos pecados; na ressurreição da carne; na vida eterna; e espero a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir”.
Por todos os defuntos, rezemos juntos: “Descanso eterno, dai-lhes, Senhor. E a luz perpétua os iluminem. Descansem em paz. Amém!
Dom Pedro Brito Guimarães,
Arcebispo de Palmas (TO)
Fonte:
CNBB.